Lídia Pereira analisa: Por que confiar exclusivamente em energias renováveis ainda é um desafio

Confiar unicamente em energias renováveis é uma ambição nobre, mas ainda colide com limites técnicos, económicos e sociais. A análise pública de Lídia Pereira ajuda a recentrar o debate: o objetivo é a neutralidade carbónica com diversidade tecnológica, segurança do abastecimento e justiça para as famílias.

Pouco tempo? Eis o essencial:
Renováveis são essenciais, mas a intermitência ainda exige flexibilidade, armazenamento e uma rede inteligente ⚡
Planeie em camadas: eficiência da casa, autoconsumo solar, baterias, gestão de cargas e participação em comunidades de energia 🏠🔋
Evite depender de um único recurso: combine solar, eólica, hídrica e, quando fizer sentido, gases renováveis ou calor térmico 🌬️☀️🔥
Olhe para o sistema: mercado europeu de energia, interligações e regras estáveis dão previsibilidade e preços mais justos 🌍
🎁 Bónus: configure o termoacumulador como “bateria térmica” e reduza picos noturnos sem perder conforto 🚿

Intermitência e segurança energética: por que 100% renovável ainda é difícil, mesmo com bons ventos

A intermitência é o primeiro obstáculo. Sol e vento variam por hora, dia e estação, enquanto a procura sobe e desce com padrões de trabalho, meteorologia e economia. O resultado é simples: sem flexibilidade, aparecem sobras em dias solares e faltas em noites frias sem vento.

Portugal tem vantagem hídrica e eólica, mas há “calmas eólicas” no verão e afluências reduzidas em anos secos. Mesmo com produção renovável elevada, o sistema precisa responder a picos inesperados: uma frente fria ao fim de tarde, um jogo de futebol nacional, ou uma onda de calor que liga milhares de ar condicionados ao mesmo tempo. Confiar apenas na geração renovável ignora o timing da procura.

É aqui que a leitura de Lídia Pereira é útil: avançar com ambição, mas com pragmatismo. O caminho passa por eletrificação “sempre que possível”, sem exclusões apressadas de soluções complementares de baixo carbono. O objetivo final continua firme: neutralidade carbónica europeia até 2050, com meta intermédia robusta de redução de 90% das emissões até 2040, apoiada por mercados de carbono com limites e fiscalização.

Na prática doméstica, a intermitência aparece quando o fotovoltaico baixa nas nuvens e a casa precisa de cozinhar, aquecer água e carregar o automóvel ao mesmo tempo. Em bairro, o problema replica-se com microvariações que somadas pressionam a rede. Em país, surgem congestões nos cabos e oscilações de frequência que obrigam a uma reserva rápida de potência.

O que fazer para mitigar a intermitência no dia a dia

Para reduzir riscos em casa e no bairro, convém organizar consumos e diversificar fontes locais. Não é preciso gastar uma fortuna para ganhar resiliência: a ordem e as prioridades valem tanto quanto a potência instalada.

  • 🔌 Use temporizadores para deslocar máquinas de roupa e loiça para horas solares ou tarifas mais baratas.
  • 🌡️ Transforme o termoacumulador em “bateria térmica”: aqueça água quando há sol e utilize-a à noite.
  • 🪟 Reforce a envolvente: sombreamento, vãos eficientes e estanquidade reduzem picos de climatização.
  • 🔋 Considere uma bateria modesta (4–8 kWh) para suavizar o fim de tarde, quando a produção solar cai.
  • 🤝 Participe numa comunidade de energia para partilhar excedentes e estabilizar o bairro.

No desenho do sistema nacional, interligações ibéricas e um verdadeiro mercado europeu de energia ajudam a equilibrar excedentes e faltas. A cooperação reduz custos, melhora a competição e dá sinal claro para mais investimento em redes e armazenamento.

Fonte ♻️ Variabilidade Papel ideal Desafio principal
Solar ☀️ Diurna e sazonal Base diurna e autoconsumo Pôr do sol e inverno
Eólica 🌬️ Horária e sazonal Cobertura noturna e de inverno Calmas eólicas
Hídrica 💧 Dependente da chuva Regulação e reserva rápida Secas prolongadas
Biomassa 🌿 Mais estável Base flexível Abastecimento sustentável

Ideia-chave: intermitência não é fracasso; é um dado de projeto que exige flexibilidade técnica e gestão de consumos.

lídia pereira analisa os desafios de confiar exclusivamente em energias renováveis e discute as soluções para um futuro energético sustentável.

Armazenamento e flexibilidade: baterias, hidrogénio e calor que dão estabilidade às renováveis

Sem armazenamento, o sistema corre atrás do relógio. Com as soluções certas, a produção renovável ganha “músculo” e responde quando o céu muda. Há três camadas úteis para casas e bairros: baterias elétricas para equilíbrio horário, armazenamento térmico para conforto diário e hidrogénio/biometano como reserva estratégica de longa duração.

As baterias de iões de lítio (LFP) dominam a escala residencial. Guardam excedentes solares das 10h–16h e devolvem ao final da tarde. Em condomínios, baterias partilhadas reduzem a potência contratada e aliviam a rede local. Em veículos elétricos, o V2H/V2G permite usar o carro como reserva portátil, desde que o inversor e o contrato com o comercializador o suportem.

No calor, depósitos bem isolados acumulam energia para duches e cozinha. Pisos radiantes com inércia térmica suavizam variações de temperatura. Em edifícios multifamiliares, um circuito de água quente com bombas de calor centralizadas baixa custos e facilita a gestão de picos. É tecnologia conhecida, robusta e com manutenção simples.

Para durações sazonais, o hidrogénio verde ganha espaço em portos industriais e clusters logísticos. Não é solução para tudo, mas funciona como “seguro” do sistema em semanas de escassez renovável. Biometano injetado na rede também cobre necessidades térmicas e industriais com emissões muito reduzidas, desde que a origem seja de resíduos e lamas.

Como escolher o armazenamento certo para a sua realidade

A escolha deve considerar duração típica da falta de energia renovável, eficiência, custo total e integração com a rede. Em casa, tem ajudado selecionar um “pacote” simples: 4–8 kWh de bateria, termoacumulador programado e um inversor pronto para V2H. Em bairro, uma bateria comum e um contrato de flexibilização com o operador da rede oferecem ganhos adicionais.

  • 🔋 Priorize baterias para 2–4 horas de autonomia útil ao fim da tarde.
  • 🌡️ Programe o aquecimento de água entre as 11h e as 16h para absorver solar.
  • 🚗 Considere V2H se o automóvel ficar estacionamento em casa ao fim do dia.
  • 🧠 Prefira inversores “grid-forming” com atualização remota e monitorização.
  • 📈 Negocie tarifas dinâmicas para valorizar a energia nas horas certas.
Opção 🔄 Duração típica Rendimento Uso ideal Nota de 2025
Bateria LFP 🔋 2–6 h ~90–94% Fins de tarde Preços estabilizados e melhor integração V2H
Água quente 🌡️ 8–24 h ~95% térmico Banhos e cozinha Ótimo custo/benefício para autoconsumo
Hidrogénio 💨 Semanas 30–45% Sazonal/industrial Projetos-piloto em expansão
Biometano 🌿 Semanas Alta na combustão Térmico/indústria Escala ligada a resíduos regionais

Se quiser ver casos práticos e tutoriais, vale pesquisar soluções implementadas em bairros europeus com bom desempenho.

Conclusão tática desta parte: armazenar é ampliar — cada kWh guardado multiplica a utilidade das renováveis.

Rede elétrica inteligente e gestão da procura: o “lado invisível” que torna as renováveis fiáveis

Mesmo com painéis e baterias, a fiabilidade depende da rede. Cabos, subestações, interligações e software orquestram milhares de microdecisões por minuto. Uma rede moderna “ouve” a produção e a procura e ajusta-se em tempo real. É por isso que um mercado europeu de energia mais integrado, defendido por várias vozes, é vital para preços justos e estabilidade.

Contadores inteligentes permitem tarifas dinâmicas e respostas automáticas. Um simples comando pode atrasar a máquina de lavar, antecipar o carregamento do VE ou reduzir 1 grau numa bomba de calor por 30 minutos. Milhares de casas a fazerem pequenos ajustes formam uma “usina virtual” que evita ligar uma central cara e emissora.

Em Portugal, as interligações com Espanha amortecem picos e aproveitam excedentes. Comunidades de energia em bairros novos aceleram a digitalização local. Gestores de flexibilidade — agregadores — pagam aos moradores por deslocarem consumos em minutos críticos. O resultado é conforto igual, mas com emissões e custos mais baixos.

Ferramentas de gestão de procura que funcionam

Há soluções plug-and-play que ajudam sem complicar a rotina. O segredo é automatizar o que não exige atenção diária e deixar opções manuais fáceis para o resto. Em edifícios, sistemas centralizados gerem bombas de calor, elevadores e iluminação com algoritmos simples, priorizando segurança e consumo fora de pico.

  • 🧰 Tomadas e relés Wi-Fi para cargas não críticas (AQS, máquinas, secadores).
  • 🌤️ Monitorização solar para acionar cargas quando a produção sobe.
  • 📱 Apps dos comercializadores com tarifas em tempo real e alertas.
  • 🤖 Controladores de bomba de calor com modos “eco” e “boost” temporizados.
  • 🧩 Integração com VE para carregar entre 02h–06h ou em horários solares.
Escala 🧭 Medida de flexibilidade Impacto Complexidade
Casa 🏠 Programar AQS e máquina de lavar ⬇️ pico, ⬆️ autoconsumo Baixa
Edifício 🏢 Gestão central de bombas de calor Alta em horas críticas Média
Bairro 🏘️ Comunidade de energia + bateria partilhada Estabiliza rede local Média/Alta
País 🌍 Mercado europeu e interligações Preço mais estável Alta (regulatório)

Pergunta-chave a reter: se a rede ganha “inteligência”, por que não deixar que a sua casa participe e seja remunerada por isso?

Tecnologias complementares de baixo carbono: gases renováveis, calor distrital e neutralidade tecnológica

A afirmação de Lídia Pereira de que “não é credível depender apenas de renováveis” não diminui a ambição climática — torna-a mais concreta. O ponto é neutralidade tecnológica: usar a solução certa, na hora certa, sem dogmas. Em 2025, isso inclui biometano de resíduos, hidrogénio verde em setores difíceis de eletrificar e sistemas térmicos de alta eficiência para bairros.

O biometano aproveita resíduos agrícolas, urbanos e lamas de ETAR. Injetado na rede, substitui gás fóssil e reduz emissões metano-fugitivas. Em edifícios existentes, uma mistura de biometano com bombas de calor híbridas acelera a transição sem obras profundas. Em cozinhas profissionais e processos térmicos, mantém a chama com pegada reduzida.

O hidrogénio verde não é bala de prata. Tem perdas na eletrólise e na reconversão, mas compensa na estocagem sazonal, siderurgia, química e mobilidade pesada. Em portos com eólica offshore, a síntese de hidrogénio e derivados (e-metanol, e-amónia) pode estabilizar a produção e exportar energia em forma de molécula.

O calor distrital renovável liga caldeiras de biomassa residual, bombas de calor água-água e solar térmico a redes de baixa temperatura. Bairros com boa densidade habitacional beneficiam de centrais com manutenção profissional e contadores individuais. A fatura baixa por escala e a segurança aumenta, porque a produção é local e flexível.

Políticas e investimento: previsibilidade conta

Metas claras da UE — neutralidade em 2050 e redução de 90% até 2040 — criam sinal para indústria e famílias. Mecanismos de mercado com limites (como créditos de carbono até ~5% para complementar metas nacionais) trazem flexibilidade sem abrir porta a subsidiação de carvão. Programas europeus têm canalizado centenas de milhões de euros para tecnologias limpas, com avisos específicos acima de 100 milhões para inovação, e pedem transparência na aplicação — condição que aumenta a confiança.

  • 🌿 Biometano para edifícios existentes e processos térmicos.
  • 💨 Hidrogénio em indústrias difíceis e como seguro sazonal.
  • 🔥 Calor distrital de baixa temperatura em bairros compactos.
  • 🔌 Eletrificação onde for mais eficiente (bombas de calor, mobilidade).
  • 📜 Regras estáveis e fiscalização do mercado de carbono.
Complemento 🧩 Força Limite Uso recomendado
Biometano 🌿 Aproveita resíduos Escala limitada Retrofit e térmico
Hidrogénio 💨 Armazenamento sazonal Perdas energéticas Indústria/pico
Calor distrital 🔥 Economia de escala Exige densidade Bairros compactos
Nuclear (contexto UE) ⚛️ Baixo carbono contínuo Custos/aceitação Base sistémica

Para quem projeta ou reabilita, a mensagem é simples: diversidade tecnológica reduz risco e acelera a descarbonização real.

Para ver debates técnicos sobre estas soluções e os seus contextos, procure análises comparativas com dados independentes.

Nota final desta parte: tecnologia certa, no sítio certo, é o que transforma metas em conforto acessível.

Da casa ao bairro: roteiro prático para reduzir dependências e ganhar resiliência já

Num condomínio em Aveiro — chamemos-lhe “Bairro da Ria” — os moradores decidiram agir. Painéis solares em coberturas, uma bateria partilhada de 200 kWh, bombas de calor e um pequeno acordo de flexibilidade com o operador de rede. Em 12 meses, a fatura média caiu e o bairro passou por duas ondas de calor sem sobressalto.

Para replicar, o segredo é trabalhar por camadas: primeiro eficiência, depois produção local e, por fim, flexibilidade. A ordem importa porque cada euro poupado em isolamento ou sombreamento vale para sempre, enquanto equipamentos têm ciclos de vida e atualização.

Roteiro de 12 meses para uma casa ou prédio

Este plano não é dogma; é um caminho sensato para 2025 que respeita o orçamento e o conforto. Adapte à realidade do seu edifício e da sua família e confirme regras locais e oportunidades de apoio.

  • 🪟 Mês 1–2: vistorias de infiltrações, juntas e caixilharias; vedação e ajustes simples.
  • 🌞 Mês 3–4: sombreamento estival e otimização de ganhos solares no inverno.
  • ☀️ Mês 5–6: instalação fotovoltaica com inversor preparado para bateria e V2H.
  • 🌡️ Mês 7–8: bomba de calor e termoacumulador programado; sensores de CO2 para ventilação.
  • 🔋 Mês 9–10: bateria 4–8 kWh e integração com app de tarifário dinâmico.
  • 🤝 Mês 11–12: adesão a comunidade de energia e contrato de flexibilidade.
Etapa 🚀 Investimento típico Benefício principal Dica prática
Envolvente 🧱 Baixo a médio Menos picos de climatização Fitas de estanquidade e palas
PV + inversor ☀️ Médio Autoconsumo diurno Dimensionar para 60–80% da carga
Bomba de calor ❄️🔥 Médio Alta eficiência Curvas de aquecimento otimizadas
Bateria 🔋 Médio Fim de tarde estável 4–8 kWh já ajuda muito
Comunidade 🤝 Baixo Partilha e receita Regras claras de governação

Em bairros, três decisões fazem a diferença: cobertura bem pensada (para solar e sombreamento), sala técnica com espaço para baterias e tubagens futuras, e pré-instalação para pontos de carregamento. Quando chega a hora de expandir, a infraestrutura já está pronta e barata.

Para inspirar-se com soluções replicáveis, procure estudos de caso de comunidades de energia ibéricas e relatórios de operadores da rede.

Ponto a levar: resiliência nasce do conjunto — eficiência + produção + gestão inteligente.

Políticas, mercado e o que esperar da COP30: regras claras para acelerar sem travões

Eventos climáticos globais, como a COP30 em Belém, têm um papel claro: alinhar ambição com pragmatismo operativo. Ao liderar a delegação do Parlamento Europeu, Lídia Pereira tem sublinhado três ideias que importam para casas e bairros: metas firmes, neutralidade tecnológica e transparência no financiamento.

A UE aponta neutralidade em 2050, com redução de ~90% em 2040 face a 1990 e espaço limitado (até cerca de 5%) para créditos internacionais. O recado é duplo: compromisso total, mas com mecanismos de mercado para acomodar realidades distintas. A fiscalização cabe à Comissão Europeia, e o Parlamento tem apertado salvaguardas para evitar subsídios encapotados a combustíveis fósseis.

Do lado fiscal, o fim gradual de descontos em impostos sobre combustíveis segue uma lógica de transição justa — mudança sem choques no orçamento das famílias. Ao mesmo tempo, apela-se a que o Fundo Ambiental priorize pobreza energética e mobilidade suave. Tudo isto só funciona se houver comunicação clara: as pessoas precisam saber para onde vai o dinheiro e que projetos existem no seu concelho.

Na frente internacional, ganha força a expectativa de que grandes emissores assumam contribuições obrigatórias para o esforço global. A União Europeia, que já suporta uma fatia relevante do financiamento climático, precisa de parceiros à altura para manter o ritmo. Segurança energética e clima caminham juntos quando investimentos em redes, armazenamento e inovação abrem espaço a mais renováveis, com risco controlado.

O que pode esperar como cidadão e consumidor

As novas regras e programas tendem a premiar eficiência e flexibilidade. Em contrapartida, tecnologias rígidas, caras e poluentes vão perdendo vantagens. Quem se antecipar colhe poupança, conforto e valor patrimonial.

  • 📉 Tarifas mais dinâmicas e produtos de flexibilidade acessíveis.
  • 🏘️ Apoio a comunidades de energia e reabilitação eficiente.
  • 🔧 Requisitos mínimos de desempenho em reabilitações.
  • 🛰️ Redes mais digitais e melhor qualidade de serviço.
  • 🔬 Inovação apoiada em programas europeus com avisos específicos acima de 100 milhões de euros.
Tema 🧭 Medida em foco Benefício esperado Impacto para si
Metas 2040–2050 🎯 Redução ~90% até 2040 Roteiro estável Planeamento de longo prazo
Mercado de carbono 💱 Flexibilidade com limites Eficiência económica Transição com custo controlado
Fiscalidade justa ⚖️ Fim gradual de descontos Previsibilidade Ajuste sem choque
Financiamento 🔍 Transparência reforçada Confiança pública Mais acesso a apoios

Mensagem final desta secção: regras claras mais redes fortes = renováveis confiáveis e contas previsíveis.

Ação simples para começar hoje: programe o seu termoacumulador para aquecer entre as 11h e as 16h e ative o modo “eco” da bomba de calor. Pequenos gestos, somados, fazem as renováveis funcionarem melhor para si e para todos.

Source: www.jn.pt

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