O uso global de carvão atingiu um novo recorde em 2024, mesmo com a expansão das energias renováveis. Este cenário influencia a eletricidade, a indústria e, no fim da linha, o conforto e os custos das vossas casas.
Para ganharem tempo, aqui vai o essencial.
Peu de temps ? Voici l’essentiel :
| ✅ | Resumo ⚡ |
|---|---|
| ✅ Point clé #1 | Consumo mundial de carvão bateu recorde em 2024 (~8,8 mil milhões de toneladas), puxado por China, Índia e Indonésia 🌏, apesar da queda em economias avançadas. |
| ✅ Point clé #2 | Solar e eólica crescem rapidamente ☀️💨, mas precisam duplicar o ritmo anual para manter a meta de 1,5°C ao alcance. |
| ✅ Point clé #3 | Erro comum: focar só na produção de energia e esquecer a eficiência dos edifícios 🏠; sem reduzir a procura, o carvão continua a preencher o “buraco”. |
| ✅ Point clé #4 | Ação imediata: planear medidas passivas (isolamento, estanqueidade, sombreamento) e eletrificação (bomba de calor + fotovoltaico) para cortar a dependência do carvão. |
Consumo Mundial de Carvão em 2024: recorde histórico e as implicações para a energia e a habitação
O relatório State of Climate Action confirmou: a quota do carvão na eletricidade caiu graças ao avanço das renováveis, mas a procura total de energia subiu e, com ela, o uso de carvão. É a contradição do momento: produz-se mais energia limpa, contudo o apetite global continua a crescer mais depressa do que a substituição dos fósseis.
Este aumento foi assimétrico entre regiões. Enquanto a Europa e alguns segmentos dos EUA recuaram no consumo, China, Índia e Indonésia compensaram largamente. Na China, a expansão industrial e a segurança de abastecimento em picos de procura continuam a apoiar centrais a carvão. Na Índia, a ultrapassagem simbólica de 1 mil milhão de toneladas de produção foi celebrada como motor de desenvolvimento, mesmo com o país a instalar solar a ritmo intenso.
O retrato para 2025 não afasta a tensão: autoridades climáticas alertam que, para cumprir a meta de 1,5°C, a eletrificação de sectores como transportes e aquecimento terá de avançar, mas isso só funciona se a eletricidade for de baixo carbono. Caso contrário, transfere-se a poluição do escapamento e da chaminé para a central a carvão.
Na vida doméstica, o reflexo é direto. Tarifas pressionadas por combustíveis fósseis tornam a conta da luz mais volátil. Edifícios com fraca eficiência “pedem” mais quilowatts-hora no inverno e no verão; e quando a rede precisa de responder rapidamente, muitas vezes é o carvão que entra em cena. Assim, a casa ineficiente é duplamente cara: paga mais e acelera o ciclo de picos que trazem carvão ao sistema.
Para além da energia, o relatório aponta outras frentes preocupantes: perda de sumidouros de carbono (mais de 8 milhões de hectares de florestas perdidos em 2024), intensidade carbónica do aço a subir e eficiência energética global abaixo do necessário. Com transportes ligeiros a acelerar a eletrificação (mais de 20% das vendas de novos veículos são elétricos, e na China quase metade), o desafio desloca-se para “limpar” a rede e melhorar edifícios.
Perante este cenário, convém separar mitos de caminhos práticos. Casas que consomem menos e consomem melhor aliviam a rede e reduzem a necessidade de carvão em horas críticas. Se a pergunta é “o que fazer já?”, a resposta começa na eficiência, continua na eletrificação limpa e termina numa gestão inteligente da procura.
- 🌡️ Reduzir a procura: isolamento de cobertura e paredes, caixilharia eficiente, controlo de infiltrações.
- ⚡ Eletrificar com eficiência: bombas de calor e cozinhas de indução diminuem a dependência de gás e carvão.
- ☀️ Produção local: fotovoltaico com gestão de cargas e, quando possível, baterias.
- 🕒 Flexibilidade: deslocar consumos para horas de maior renovável disponível (programadores, tarifários dinâmicos).
| 🌍 Região | 📈 Tendência do carvão | 🔌 Fator principal | 🏠 Implicação para casas |
|---|---|---|---|
| China 🇨🇳 | Alta em 2024 | Crescimento industrial e segurança de pico | Volatilidade tarifária; mais valor em PV + bomba de calor |
| Índia 🇮🇳 | Alta com recorde de produção | Procura crescente e infraestruturas | Eficiência térmica crítica para conforto |
| Europa 🇪🇺 | Queda relativa | Renováveis e políticas climáticas | Edifícios quase zero energia aceleram |
| Américas 🇺🇸🇧🇷 | Mista | Políticas divergentes nos EUA; renováveis no Brasil | Gestão de cargas reduz picos a carvão |
Mensagem-chave: sem casas eficientes, a rede fica refém do carvão nos picos; eficiência é a primeira “usina” a instalar.

Impacto do recorde de carvão na eletricidade e nas contas: como proteger o vosso orçamento e o clima
Quando a procura sobe e as renováveis não chegam, o sistema recorre a centrais fósseis para atender a picos. O carvão, apesar de mais poluente, é frequentemente o “último recurso” disponível com capacidade firme. O resultado? picos de preço no mercado grossista, que acabam por refletir-se nas tarifas e nos ajustes regulatórios.
Há um efeito cascata nos edifícios. Casas mal isoladas obrigam a maiores cargas térmicas, aumentando a procura em horas críticas. Por oposição, uma moradia com envelope eficiente, sombreamento externo e ventilação noturna precisa de menos energia, achatando a curva de consumo e, na prática, reduzindo a necessidade de carvão da rede.
Um exemplo prático: um T3 dos anos 90 em Lisboa, sem intervenção, pode exigir 120–150 kWh/m².ano para climatização. Após isolamento de cobertura, caixilharia com vidro baixo emissivo e uma bomba de calor A+++, a necessidade pode cair para 35–50 kWh/m².ano. O conforto sobe e a fatura desce, especialmente se articulado com painéis fotovoltaicos e uso de tarifários bi-horários.
A eletrificação bem planeada é aliada. Bombas de calor extraem 2–4 vezes mais calor por kWh do que resistências elétricas, permitindo aquecimento e AQS com menor consumo. E quando integradas com PV + controlos inteligentes, deslocam a operação para janelas com mais renovável, reduzindo emissões e custos.
- 💡 Medir para decidir: auditoria energética, medidores de tomada, faturas analisadas.
- 🧊 Climatização eficiente: bomba de calor, manutenção de filtros, curvas climáticas.
- 🪟 Envelope: vedação de infiltrações, cortinas térmicas, estores exteriores.
- 🔋 Gestão: programar AQS, máquina de roupa e carregamento EV nas horas solares/vales.
| 🏠 Medida | 💶 Investimento típico | ⏱️ Payback | 🌫️ Efeito na “hora do carvão” |
|---|---|---|---|
| Isolamento de cobertura | Médio 💰💰 | 2–5 anos | Reduz picos de aquecimento/arrefecimento |
| Janelas eficientes | Alto 💰💰💰 | 6–10 anos | Achatamento da curva de procura |
| Bomba de calor A+++ | Médio/Alto 💰💰💰 | 3–7 anos | Maior eficiência em horas críticas |
| Fotovoltaico + controlo | Alto 💰💰💰 | 5–9 anos | Autoconsumo nas horas solares ☀️ |
Quer aprofundar este tema com um especialista? Procure vídeos claros e objetivos sobre a ligação entre carvão, preços e transição elétrica.
Ideia-chave: cada quilowatt-hora que deixa de ser necessário numa casa eficiente diminui a pressão para acionar carvão na rede.
Transição acelerada: solar e eólica crescem, mas precisam duplicar — estratégias concretas para edifícios de baixo carbono
O relatório internacional é claro: a energia solar é a fonte que mais cresce na história e a eólica mantém expansão robusta. Ainda assim, o mundo tem de duplicar as taxas anuais de crescimento destas fontes para garantir cortes de emissões compatíveis com 1,5°C. O hiato não é tecnológico; é de escala, financiamento, redes e licenciamento.
O que isto significa para uma habitação? Quanto mais rápido o mix elétrico ficar limpo, mais sentido faz eletrificar aquecimento, AQS e mobilidade. Mas a transição não é “plug and play”: exige edifícios preparados para baixos consumos e para flexibilidade, capazes de aproveitar as janelas de maior produção renovável.
Num condomínio em Setúbal, um plano faseado mostrou-se eficaz: primeiro, isolamento de coberturas e fachadas (redução imediata de carga); segundo, bombas de calor coletivas com curvas climáticas; terceiro, PV na cobertura com partilha de autoconsumo; por fim, um piloto de baterias para “alisar” picos do final da tarde. O resultado foi queda de 38% no uso de energia da rede em horas críticas.
A flexibilidade do lado da procura é o complemento invisível das renováveis. Programar AQS, gerir cargas de EV e deslocar máquinas de lavar para horas solares tem impacto real. Tarifa dinâmica e controladores simples já permitem comportamentos com retorno rápido.
- 📊 Priorizar eficiência antes de adicionar potência: menos kWh, mais impacto.
- 🔁 Controlo e automação: termóstatos inteligentes, programadores e agendamento por preço.
- 🌬️ Qualidade do ar: VMC de baixo consumo assegura conforto sem perdas térmicas.
- 🏢 Comunidades de energia: partilha de PV em prédios reduz dependência do carvão.
| ⚙️ Ação | 🎯 Objetivo | 📉 Impacto em kWh | 🧠 Requisito de controlo |
|---|---|---|---|
| Isolamento + estanqueidade | Cortar cargas térmicas | 30–60% na climatização | Baixo (obra e verificação) |
| Bombas de calor | Alta eficiência no aquecimento/AQS | 2–4x menos kWh úteis | Médio (curvas e manutenção) |
| PV + autoconsumo | Substituir kWh da rede | 20–50% do consumo | Médio/Alto (gestão de cargas) |
| Armazenamento | Deslocar uso para horas limpas | 10–25% de pico deslocado | Alto (BMS/EMS) |
Para quem valoriza orientação prática, a plataforma Ecopassivehouses.pt reúne ideias e boas práticas sobre eficiência, materiais ecológicos e integração energética — utilidade direta para cada fase de projeto ou reabilitação.
Resumo desta parte: eficiência + eletrificação + flexibilidade = menos espaço para o carvão no sistema.
Políticas e geopolítica do carvão: China, Índia, EUA e as decisões até à COP30
Os compromissos de 2021 pediam redução gradual do carvão. Contudo, a realidade de 2024 mostrou novos máximos globais. Porque acontece? Segurança energética e crescimento económico têm pesado mais nas decisões de curto prazo, sobretudo em economias emergentes. Na China, apesar do boom solar e eólico, picos de inverno e verões extremos pedem capacidade firme. Na Índia, a narrativa do desenvolvimento justifica a manutenção do carvão enquanto as redes e o armazenamento não ganham escala.
Nos EUA, mudanças políticas recentes reabriram portas a combustíveis fósseis e complicaram licenças de projetos renováveis. Embora ainda não tenham explodido as emissões, a tendência pode atrasar investimentos e afetar cadeias de fornecimento. A boa notícia é que UE e China continuam a empurrar renováveis e redes, reduzindo parte do impacto global.
O relatório reforça: não há hipótese de 1,5°C com carvão recorde. Para corrigir a trajetória, é vital alinhar políticas de mercado, infraestruturas e apoios a tecnologias limpas. O encontro da COP30 no Brasil assume, por isso, peso estratégico: cada país terá de atualizar a sua contribuição nacional, e a pergunta central é como elevar ambição com planos concretos e credíveis.
Medidas-chave ganham urgência: remover subsídios ineficientes aos fósseis, acelerar ligações de renováveis à rede, criar mercados de flexibilidade, e apoiar requalificação de regiões carboníferas. Do lado da procura, códigos de construção e programas de eficiência para edifícios existentes são alavancas de resultado rápido.
- 🧭 Previsibilidade regulatória para destravar investimento em redes e renováveis.
- 🏭 Descarbonizar indústrias (aço, cimento) com eletricidade limpa e hidrogénio verde.
- 🌳 Proteger sumidouros: conter desflorestação — o mundo precisa agir 9x mais rápido.
- 👷 Transição justa nas regiões do carvão com formação e novas cadeias de valor.
| 🗺️ Ato | 📅 Horizonte | 🔄 Mecanismo | 🌡️ Impacto esperado |
|---|---|---|---|
| Eliminar carvão sem captura em nova geração | Imediato | Regulação e leilões | Evita lock-in de emissões |
| Dobrar ligações de renováveis | 2–3 anos | Simplificação de licenças | Mais kWh limpos no sistema ⚡ |
| Eficiência em edifícios | 1–5 anos | Incentivos e códigos | Reduz picos a carvão |
| Reforço de redes | 3–7 anos | Capex e planeamento | Integração de eólica/solar 💨☀️ |
Para contextualizar estas escolhas e captar perspetivas globais, vale ver análises independentes sobre carvão, COP30 e transição energética.
Insight prático: políticas que atacam a procura e o pico de consumo aceleram a saída do carvão mais do que promessas vagas sobre 2050.
Da teoria à obra: soluções de arquitetura passiva para cortar a dependência do carvão já
Se a eletricidade ainda carrega carvão em horas críticas, a melhor estratégia é precisar de menos energia nessas horas. A arquitetura passiva oferece soluções de baixo risco, retorno previsível e conforto superior. O objetivo é projetar (ou reabilitar) para que a casa “trabalhe a vosso favor”: menos perdas, ganhos solares controlados, ventilação saudável e cargas térmicas reduzidas.
Começa-se pelo envelope. Isolamento de coberturas é a intervenção com maior relação custo-benefício; paredes e pavimentos seguem-se conforme o caso. Caixilharia com rutura térmica e vidros baixo emissivos estabilizam a temperatura interior. A estanqueidade do ar reduz infiltrações e ruído: vedações, caixas de estore tratadas e cuidados em atravessamentos.
Depois, o controlo solar. Sombreamento externo (brises, estores, palas) evita ganhos excessivos no verão, enquanto no inverno a orientação correta permite aproveitar o sol. Plantar espécies de folha caduca é um recurso bioclimático inteligente. A ventilação mecânica controlada com recuperação de calor garante ar limpo com mínimos desperdícios.
Na reabilitação de um apartamento em Braga, a combinação de isolamento de cobertura, substituição de janelas, VMC de baixo consumo e uma bomba de calor inverter reduziu o uso anual de energia em 44%. Adicionando 3,6 kWp de PV em autoconsumo e programando AQS para as horas solares, os consumos da rede nas horas de ponta caíram drasticamente — e é aí que o carvão costuma entrar.
- 🧱 Envelope primeiro: sem isolamento, qualquer sistema trabalha em esforço.
- 🪟 Janelas e sombreamento: conforto de verão e inverno, menos carga de climatização.
- 🌬️ VMC com recuperação: saúde e eficiência em simultâneo.
- ⚙️ Comissionamento: afinar equipamentos garante desempenho real, não apenas teórico.
| 🏗️ Solução passiva/ativa | 📐 Efeito | 🧮 Redução de carga | 🕒 Papel no pico |
|---|---|---|---|
| Isolamento de cobertura | Menos perdas por transmissão | 15–30% aquecimento | Atrasa/baixa o pico matinal |
| Brises/estores exteriores | Menos ganhos solares | 20–40% arrefecimento | Evita picos vespertinos ☀️ |
| VMC com recuperação | Ar limpo com pouco kWh | 5–15% climatização | Suaviza cargas contínuas |
| PV + gestão de cargas | Autoconsumo inteligente | 15–35% consumo da rede | Move uso para horas limpas |
Para quem pondera “por onde começar amanhã?”, a resposta é simples: uma vistoria ao envelope, seguida de um plano faseado com prioridades e orçamento. O resultado não é apenas uma fatura mais leve; é menos carvão acionado quando o sistema treme. Começar hoje com uma medida — mesmo pequena — muda o jogo.
Source: www.rtp.pt


